terça-feira, 10 de julho de 2007

A Comunicação Social e os incêndios florestais


A Comunicação Social serve para informar. Ninguém o contesta. E a informação, ou se quisermos, “a notícia, é quando, ao carregar no interruptor, a luz não acende”, como dizia Ted Turner. De facto, se o que acontece é normal, usual, não há notícia. A notícia é, por isso, a diferença e a actualidade. É o que é novo. É o que não deveria acontecer, mas acontece.
Nesse sentido, entendo bem os que defendem que um incêndio florestal é sempre notícia. Não deveria acontecer. É o anormal. Ou deveria sê-lo, pelo menos. É, por isso, “noticiável”.
No entanto, pela mesma lógica de Ted Turner, a ausência de incêndios este ano é também notícia. Até agora, a área ardida é das mais baixas desde há décadas e o verão já vai alto. Há também uma realidade que é notícia. Parece ser evidente que nunca, como agora, se tem investido na diferença no combate e na prevenção. E não falo apenas em Gondomar, onde o esforço da Protecção Civil, da Câmara Municipal, das Juntas de Freguesia, das Associações de Bombeiros é, em minha opinião, notícia. Falo de todo o País. Notícia porque é melhor do que anos anteriores. Notícia porque é diferente do que se costumava fazer.
É evidente que os resultados desta campanha têm tudo a ver, também, com as condições climatéricas. É claro que a chuva de Junho e as temperaturas amenas deste Verão têm contribuído, de forma decisiva, para esta “notícia” da ausência de incêndios.
Mas, também por isso, creio eu, seria notícia, motivo de investigação, de meditação, de reportagem, este Verão que está a passar. É que, todos os anos, lemos, ouvimos e vemos as reportagens sobre as motivações dos incêndios florestais. Os repórteres, de “arma” em punho, procuram o cisco nos olhos dos outros. Da coordenação que não coordena, dos bombeiros que chegam tarde, dos meios que são escassos, das Câmaras que não limpam as florestas, dos criminosos que ateiam o fogo…
Ora, em minha opinião, a Comunicação Social faz muito bem quando procura essas causas. Apontando os erros alheios, espiando o pecado de um país que vê arder a sua riqueza. Mas, pergunto modestamente: não seria também pertinente, este ano, que a Comunicação Social espelhasse uma realidade que está a vista, que é agora comprovável e que é notícia? É que a floresta arde, sobretudo, porque está calor? O resto, são os nossos comportamentos, a nossa prevenção, o nosso trabalho de defesa. Fundamental, mas apenas um dos factores.
Com isto, não quero alijar responsabilidades a ninguém. Nem aos cidadãos negligentes, nem às Autarquias incompetentes, nem aos bombeiros ou governantes que poderiam fazer mais. Apenas quero dizer que, como todos nós, perante condições favoráveis, temos a capacidade de trabalhar para evitar incêndios ou para combatê-los de forma mais eficaz, também os jornalistas, os órgãos de Comunicação Social, têm capacidade para dar a sua parte do trabalho. E não têm dado.
Da mesma forma que o País é crucificado, todos os anos, por deixar arder a floresta, parece-me evidente que este ano, quanto mais não fosse por ser notícia a ausência, para já, de grandes incêndios, esse tempo de antena que sempre ocupa os “telejornais”, fosse agora, pelo menos parcialmente, ocupado com os exemplos de quem faz bem no terreno e com os imprescindíveis conselhos e sensibilização aos que ainda não estão motivados.
Para essa notícia, a Comunicação Social não tem “tempo de antena” ou, quanto mais não seja, não tem tido o sentido da “responsabilidade social”.
Se Autarquias, bombeiros, cidadãos, governantes e até "S. Pedro" são culpados dos nossos incêndios, ao rol dos “arguidos” deste crime ambiental para o qual contribuímos, temos inevitavelmente que juntar os órgãos de Comunicação Social. Não só porque não ajudam a prevenir, como, ao mínimo sinal, ajudam a atear, quando mostram de forma sistemática e quase publicitária, o País a arder. Sendo que, está hoje cientificamente provado, essas imagens, muitas vezes repetitivas e gratuitas, despidas de qualquer classificação de “notícia”, são potenciadoras de novos incêndios e incendiários.
De facto, como aqui temos escrito várias vezes, TODOS somos responsáveis pela nossa floresta. E neste capítulo, não há bons e maus. De uma forma ou de outra, TODOS temos mais capacidade para contribuir e para prevenir… e TODOS possuímos o fósforo que capaz de acender o rastilho (o que, aliás, dá muito menos trabalho e é muito mais espectacular). E a Comunicação Social, como este ano se prova, não se pode, pudicamente, excluir das suas responsabilidades, como tem feito.

Nuno Santos
Assessor de Imprensa e Responsável pelo Gabinete de Imprensa da Câmara Municipal de Gondomar

NOTA: neste blog nunca publicámos imagens de chamas de forma gratúita e desnecessária. Preferimos, normalmente, motrar as consequências dos incêndios e alertar para formas de os prevenir.

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