sábado, 29 de setembro de 2007

Área ardida de floresta e mato é a mais baixa dos últimos 27 anos

REPRODUZ-SE, A SEGUIR, ARTIGO HOJE PUBLICADO NO JORNAL PÚBLICO

29.09.2007, Mariana Oliveira

Sucesso atribuído à meteorologia,à primeira intervenção e à vigilância. Sem triunfalismos, porque o combustível se acumula na floresta
É o número de hectares ardidos até ontem, segundo a Direcção-Geral dos Recursos Florestais. Do total, 7585 hectares arderam em zonas de povoamentos florestais e 8451 em áreas de matos a A dois dias e meio do fim do período mais crítico dos incêndios florestais, que termina amanhã, contabilizavam-se 16.036 hectares de floresta e matos ardidos segundo dados da Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF) disponibilizados ao PÚBLICO. Apesar de o ano ainda não ter terminado, quase todos arriscam que 2007 deverá registar a menor área ardida dos últimos 27 anos, isto é, desde 1980. A grande fatia do sucesso é atribuída à meteorologia, mas a rapidez da primeira intervenção e vigilância da GNR também colhem louros. Sem triunfalismos, alguns alertam para o combustível que se acumula na floresta e aumentará o risco potencial de incêndios no futuro.Para encontrar uma área ardida aproximada à deste ano é preciso recuar até 1988, em que arderam 22.435 mil hectares de floresta e matos. A 15 de Setembro a DGRF, dava igualmente conta de uma redução significativa do número de ocorrências: 9127, contra 23.360 na média 2002-2006. Áreas protegidas poupadasAs áreas protegidas também foram poupadas este ano, tendo até ao passado dia 24 o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade contabilizado apenas 1,7 hectares ardidos, contra mais de 11 mil hectares queimados até meados de Setembro do ano passado. Não há combatentes mortos nos incêndios deste ano e a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), que está a fazer o levantamento dos prejuízos, diz que os indicadores de que dispõe apontam para uma diminuição do número de feridos e dos danos em equipamentos e veículos. "O Verão já passou e dificilmente a área ardida aumentará muito mais até ao final do ano. Provavelmente teremos o valor mais baixo desde 1980", avalia Joaquim Sande Silva, da Liga para a Protecção da Natureza e professor na Escola Superior Agrária de Coimbra. A convicção é partilhada por muitos. Na análise dos porquês, a preponderância das condições climatéricas é consensual. "O número de dias em que o índice de risco de incêndio se apresentou muito elevado ou extremo é, até este momento, à volta de um terço da média de 2000-2006", exemplifica Paulo Fernandes, investigador do departamento florestal da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. "A chuva ajudou e, mesmo quando as condições meteorológicas estiveram adversas, não houve ventos de leste, o que permitiu que durante a noite houvesse um aumento da humidade relativa do ar, como aconteceu no Sardoal, o maior incêndio do ano", completa. E o presidente da LBP, Duarte Caldeira, lembra que a chuva permitiu níveis de concentração de humidade no solo, que dificultaram a propagação dos fogos. As melhorias na primeira intervenção também parecem consensuais. António Salgueiro, coordenador do Grupo de Análise e Uso do Fogo (GAUF), que se estreou este ano no dispositivo de incêndios, diz que houve mais eficácia no combate. "Sentimos mais rapidez no despacho dos meios, especialmente nos aéreos", salienta. Américo Mendes, presidente da Associação Florestal do Vale do Sousa, também realça melhorias no tempo de resposta da primeira intervenção. Os dois apontam ainda para o trabalho de fiscalização e vigilância da GNR que acreditam terá ajudado a reduzir o número de ignições na floresta. A este factor Duarte Caldeira junta as campanhas de sensibilização que acredita estão a ajudar a mudar comportamentos. Sande Silva aplaude a criação dos GAUF, que acredita que trouxeram uma nova abordagem ao combate. Américo Mendes puxa a brasa à sua sardinha, lembrando o trabalho de silvicultura preventiva feito, em parte, pelas brigadas de sapadores dos produtores florestais e sustentando que a política de defesa da floresta contra incêndios tem que ter em conta que 93,4 por cento da floresta é privada. Por isso, reivindica mais recursos financeiros para as associações de produtores, com base no seu desempenho. Sande Silva diz que a aposta na prevenção ainda é incipiente e salienta a importância do cadastro florestal. Opiniões à parte, há um alerta que ecoa. "Em 2006 não ardeu muito, este ano ardeu pouco, o que queimou em 2003 começa a estar pronto para arder outra vez. Começamos a ter um potencial de incêndio muito grande", alertou Salgueiro.

Sem comentários: